28/01/2013

Tragédia em Santa Maria/RS causou pelo menos 232 mortes



Santa Maria/RS - O alvará de funcionamento da boate Kiss em Santa Maria (RS), que pegou fogo na madrugada deste domingo (27) e deixou pelo menos 232 mortos, estava vencido desde agosto do ano passado, segundo comandante do Corpo de Bombeiros da Região Central do Rio Grande do Sul, tenente-coronel Moisés da Silva Fuchs. "O documento serve para atestar as condições de prevenção e combate a incêndios, sendo necessário para o funcionamento da casa na sua normalidade", disse o segundo comandante.

Segundo informações preliminares, o fogo teria começado por volta das 2h30, depois que a banda que se apresentava teria utilizado sinalizadores durante uma espécie de show pirotécnico. As faíscas teriam atingido a espuma do isolamento acústico, no teto da boate, e iniciado o fogo, que se espalhou pelo estabelecimento em poucos minutos. O incêndio provocou pânico, e muitos presentes não conseguiram acessar a saída de emergência.

O número de pessoas que estavam na boate ainda não foi confirmado. A festa "Agromerados" reunia estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, dos cursos de Pedagogia, Agronomia, Medicina Veterinária, Zootecnia e dois cursos técnicos. A polícia e o Corpo de Bombeiros ainda trabalham no local em busca de mais informações sobre as circunstâncias da tragédia. A investigação vai ficar a cargo da 1ª Delegacia de Polícia de Santa Maria. Testemunhas já começaram a ser ouvidas no domingo (27). De acordo com major Ávila, da Brigada Militar, a polícia também está preocupada em manter intacta a estrutura da boate para o trabalho da perícia.

Familiares reconhecem corpos
Desde o fim da manhã, parentes e amigos faziam fila no Centro Desportivo Municipal de Santa Maria (RS), aguardando permissão para entrar no ginásio. Familiares das vítimas do incêndio na boate Kiss tiveram acesso ao local, no início da tarde, para fazer o reconhecimento dos mortos na tragédia.

Hospitais recebem feridos
Pelo menos seis unidades de saúde da região de Santa Maria (RS) receberam vítimas do incêndio. Voluntários também estão auxiliando o trabalho na cidade. "Estamos mobilizando todo o estado. Temos hospitais de diversas regiões se disponibilizando para ajudar", disse Ciro Simoni, Secretário Estadual da Saúde, em entrevista à Rádio Gaúcha. "Os trabalhos são intensos e é preciso uma mobilização muito grande".

Alguns feridos foram transferidos para o Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS), sendo transportados por helicópteros da Aeronáutica para a capital onde ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) já aguardavam para transportar os feridos para o setor de queimados do HPS. O campo de futebol do parque foi isolado para o pouso das aeronaves. A Avenida Osvaldo Aranha também teve o trânsito interrompido para a chegada dos helicópteros. O trajeto entre Santa Maria e Porto Alegre dura 40 minutos e a estimativa era de que aeronaves chegassem a cada 20 minutos. Equipes de Santa Maria fizeram contato com hospitais do interior do estado em busca de leitos para outros feridos. O Hospital de Santo Ângelo, o Hospital de Caridade e Beneficência de Cachoeira do Sul e o Hospital Universitário da Ulbra, em Canoas, também receberam vítimas e prestaram atendimento a feridos.

Conduta de seguranças será apurada
As causas do incêndio serão investigadas pela Brigada Militar e demais órgãos de segurança do estado. Após relatos de testemunhas, a polícia apura a suspeita de que os seguranças da boate tenham impedido a saída de frequentadores do local no início da confusão, por volta das 2h, quando a casa noturna começou a pegar fogo. De acordo com o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Altair de Freitas Cunha, as condições de prevenção contra incêndio da casa também serão apuradas.

"Recebemos alguns relatos de que os seguranças teriam barrado as pessoas até que elas pagassem a conta, mas isso são apenas relatos, não conseguimos confirmar. Também estamos apurando o que provocou o incêndio e as condições de prevenção da casa", disse ao G1 o coronel, que também está em Santa Maria acompanhando de perto os trabalhos.

Festa reunia universitários
A festa universitária "Agromerados", que tinha classificação etária de 18 anos e ingressos ao preço de R$ 15, começou às 23h de sábado (26), de acordo com as informações divulgadas no site da casa noturna. O evento era direcionado para jovens da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). As atrações confirmadas no site da boate foram Gurizada Fandangueira, Pimenta e seus Comparsas, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.

Prefeitura decreta luto oficial de 30 dias
O prefeito de Santa Maria (RS), Cezar Schirmer, decretou luto oficial de 30 dias pelas mortes ocorridas durante incêndio em uma boate e que vitimou pelo menos 232 pessoas. De acordo com o secretário de Relações de Governo e Comunicação, Giovani Manica, é a primeira vez que um luto tão extenso é decretado na cidade.

Depoimentos
A maioria das pessoas acabou morrendo por asfixia, inalação da fumaça tóxica. Queimados mesmo ali foram poucos. O que matou foi o pânico, inalação de fumaça tóxica e a dificuldade em sair. (Coronel Guido, comandante do Corpo de Bombeiros)
Foi muito rápido. Ele estava cantando e, quando a gente viu, ele parou de cantar e aí a gente olhou e prestou atenção no que estava acontecendo e tinha o fogo no teto. (Taynne Vendrúsculo, estudante)
Vigilantes tentaram pegar extintor de incêndio, mas o fogo logo tomou conta do local, rapidamente. Começou então um pisoteamento e só algumas pessoas puderam ser resgatadas. Alguns colegas de trabalho também faleceram. Só quem estava ali viu, foi um filme de terror. (Rodrigo Moura, segurança da boate)
Eu fui um dos primeiros a sair da boate, quando o incêndio começou. Inicialmente, os seguranças tentaram impedir a saída dos clientes, mas logo perceberam a fumaça e liberaram a saída. A saída também foi dificultada por uma grade colocada perto da porta para organizar a fila de entrada. (Murilo de Toledo Tiecher, estudante de Medicina)
A estudante Luana Santos Silva, de 23 anos, que estava no local no momento do incidente, disse em relato à GloboNews que o fogo se alastrou rapidamente pelo interior da boate. Nós olhamos para o teto lá na frente do palco e estava começando um fogo. Foi um amigo nosso que nos mostrou, aí nós começamos a cair. Minha irmã me puxou e eu saí arrastada pelo chão. A fumaça se espalhou rapidamente e estava bem no início. Foi só atravessar a rua e começou a sair o pessoal desesperado e gente machucada. Era uma porta pequena para muita gente sair.
(Luana Santos Silva, estudante)

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