A
dona de casa Silvânia da Silva, mãe das crianças que foram retiradas de
casa de forma irregular em junho de 2011, na cidade de Monte Santo, na
Bahia, registrou queixa na delegacia da cidade relatando que uma mulher
entrou na escola onde dois filhos mais velhos estudam. Silvânia diz que a
situação ocorreu no dia 14 de março e que, desde então, ela se sente
insegura.
“Uma mulher que é daqui da cidade, soube que ela é professora,
colocou um celular no ouvido do meu filho para falar com alguém de São
Paulo. Eles estão assustados, chorando”, relatou Silvânia.
A mãe baiana diz também que a família vem sofrendo “investidas” de um
homem que estaria em busca de informações sobre sua filha. Segundo
Silvânia, um homem se apresentou como comprador de terras em sua casa na
segunda-feira (11). “Ele veio aqui em casa anteontem, disse que queria
comprar o terreno vizinho. Ele disse que queria acertar a comprar de um
terreno com meu marido. Eu passei o número do celular errado do meu
marido. Ele voltou na terça e eu dei uma queixa na delegacia”,
acrescenta Silvânia.
Ainda de acordo com o relato da dona de casa, o homem a abordou
quando ela brincava na frente de casa com a filha e uma amiga, que o
reconheceu. “Minha amiga reconheceu ele na hora. Disse que ele estava me
xingando na internet. Eu acho que ele está em cima da minha filha. Eu
já estava desconfiada e perguntei onde ele morava, ele me disse que era
de Bonfim, depois que eu insisti, ele assumiu que era de São Paulo. Eu
anotei a placa do carro e levei na delegacia”, relatou Silvania.
O G1 entrou em contato com a delegacia da cidade,
mas não conseguiu localizar o delegado responsável pelo caso. Segundo
informações da unidade policial, ele foi até a Promotoria de Justiça do
município.
Em entrevista por telefone ao G1, a promotora
Severina Fernandes, da 2ª Promotoria de Justiça de Monte Santo, que
acompanha o caso, afirmou que soube da situação, mas que não há uma
denúncia formalizada no órgão. “O trâmite de investigação já está
aberto. Vou receber o relatório do Conselho hoje e do que foi registrado
na delegacia. Ainda não temos nada de concreto. Preciso ouvir as
pessoas para tomar todas as providências cabíveis”, afirmou Severina.
Vitória Eugênia Silva, conselheira tutelar de Monte Santo, disse que a
escola em que as crianças estudam foi notificada, mas a diretoria da
instituição ainda não foi ouvida. “Já notificamos a escola. O que
sabemos ainda é sigiloso. Nesse momento, o que tomamos conhecimento foi o
caso de escola. Todos os órgãos de proteção estão fazendo o que é
possível. Ainda não posso falar dos nossos procedimentos”, afirmou
Vitória.
A advogada Isabela Costa Pinto, do Centro de Defesa da Criança e do
Adolescente (Cedeca), diz que soube do caso em conversa com Silvânia da
Silva e que deve chegar na cidade na quinta-feira (21). “Está acontecedo
um assédio perigoso, pessoas que se aproximam da família, se fingindo
passar por outras pessoas, se fingindo de comprador de terrenos. Isso é
um absurdo. Essas pessoas não podem fazer isso. Essas crianças estão
sofrendo. Vamos procurar o Ministério Público e o juiz para ele tomar
uma providência. O receio de Silvânia é altamente compreensível”,
afirmou a advogada.
O Tribunal de Justiça da Bahia, através da assessoria, informou que é
preciso aguardar que os advogados responsáveis pelo caso acionem a
Justiça para que seja aberto um novo processo.
O caso
O casal Silvânia e Gerôncio, pais das crianças, contaram que elas foram
retiradas de casa em junho de 2011, pela polícia, após ordem do juiz
Vítor Manoel Xavier Bizerra, que na época atuava em Monte Santo. O caso
foi denunciado no Fantástico, da Rede Globo. Dos cinco filhos do casal,
dois foram levados para Campinas. Os outros foram para Indaiatuba,
cidade vizinha. Em 27 de novembro de 2012, o juiz Luiz Roberto Cappio
determinou que as cinco crianças baianas voltassem a viver com os pais
biológicos.
Os cinco filhos da lavradora Silvânia da Silva voltaram com a mãe
biológica para a cidade de Monte Santo no dia 23 de dezembro de 2012.
Através da assessoria, o Tribunal de Justiça da Bahia disse que o
juiz Luiz Roberto Cappio, que acompanhava o caso como juiz substituto,
foi remanejado para a cidade de Euclides da Cunha, onde é titular da
comarca. De acordo com o órgão, essa alteração de juízes ocorre
anualmente no mês de janeiro, no entanto, só foi realizado depois que
Cappio pudesse concluir o processo de Monte Santo.